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Novos medicamentos contra obesidade

A realidade é implacável. Quando emagrecemos, as células de gordura murcham, mas permanecem vivas e na mesma quantidade de antes – cada indivíduo tem entre 10 bilhões e 35 bilhões de células adiposas. E o pior é que, quando você engorda, elas não só voltam a inchar como se multiplicam, fenômeno que ajuda a entender a dimensão do desafio que é vencer o sobrepeso e a obesidade. Apesar dos esforços dos profissionais de saúde, da ciência e da indústria farmacêutica, essa epidemia avança a uma velocidade muito maior do que as soluções propostas, embora novas opções terapêuticas estejam prestes a chegar ao mercado brasileiro.

Uma delas é a semaglutida, molécula agonista do hormônio GLP-1, que é liberado pelo corpo após a alimentação. Esse hormônio ajuda a manter um nível normal de glicemia e aumenta a sensação de saciedade. Embora tenha sido aprovada no dia 8 de agosto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar o diabetes tipo 2, a injeção de semaglutida é a grande aposta dos médicos para ajudar no emagrecimento.

“Essa molécula dá uma vantagem percentual de 60% a 70% na perda de peso em relação à molécula que mais faz perder peso atualmente (liraglutida, vendida com o nome comercial de Saxenda)”, disse à reportagem o professor de endocrinologia da PUC-Rio Walmir Coutinho, que é ex-presidente da Federação Mundial de Obesidade. Lançada pelo laboratório Novo Nordisk, a semaglutida deve chegar às farmácias brasileiras em breve – falta a definição de preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), do Ministério da Saúde.

Em nota enviada ao jornal, a Novo Nordisk esclarece que, “em hipótese nenhuma, promove, junto à classe médica ou qualquer terceiro, indicações não aprovadas pela Anvisa, recomendando cautela na divulgação de informações sobre medicamentos ao público leigo”. A empresa informou também que não solicitou registro para que a semaglutida, vendida com o nome comercial de Ozempic, seja indicada para tratamento da obesidade. Entre seus efeitos colaterais mais comuns estão náuseas e enjoos.

Mesmo assim, o endocrinologista Walmir Coutinho acredita que isso deva ocorrer. “A aprovação para tratar obesidade deve levar uns dois, três anos”, afirma. No caso do Saxenda, também fabricado pela Novo Nordisk, o processo foi semelhante. Inicialmente aprovada para controle do diabetes e com o nome de Victoza, a substância teve bons resultados na perda de peso e passou a ser usada para esse fim de forma “off label” nos consultórios – fora das diretrizes para as quais foi aprovada. Posteriormente, o fabricante acabou desenvolvendo uma versão para tratar a obesidade.

Perda média. Pesquisas indicam que, com a liraglutida, o paciente chega a emagrecer 10% do peso corporal em um ano com a aplicação diária de uma injeção. A Novo Nordisk, que detém 40% do mercado brasileiro de emagrecedores, informa que 400 mil pacientes já utilizaram a substância desde o lançamento, em 2016.

Pesquisas apresentadas no Congresso Brasileiro de Endocrinologia de 2018, realizado neste mês, em Belo Horizonte, mostram que existe “um abismo” entre os resultados obtidos por medicamentos hoje disponíveis no mercado e os tratamentos mais radicais contra a obesidade, como as cirurgias bariátricas. A combinação de mudança de estilo de vida e remédio permite que a pessoa perca, com as opções hoje disponíveis, no máximo 15% de seu peso corporal, afirma o professor Coutinho. No caso da cirurgia bariátrica mais agressiva, chamada de “bypass”, esse percentual chega a 35%.

“Na farmacoterapia da obesidade, temos hoje quatro opções – que, na verdade, são três, já que a locarsterina está aprovada há vários meses, mas o preço não foi definido, então não chegou ao mercado. Temos a sibutramina, o orlistat e a liraglutida”, diz Coutinho. Utilizadas isoladamente, essas substâncias têm um efeito positivo inicialmente que não se sustenta no longo prazo.

Inibidores. Nesse contexto, uma nova classe de medicamentos, também desenvolvida com foco no diabetes tipo 2, começa a ser usada nos consultórios para tratar excesso de peso, depois que pesquisas mostraram resultados promissores. São os inibidores de SGLT2, que eliminam glicose pela urina, levando a uma redução na absorção calórica. Utilizados isoladamente, promovem uma perda de peso modesta, mas, combinados a outras substâncias, têm maior potencial.

“É um consenso hoje entre todos os pesquisadores que trabalham na área da farmacoterapia da obesidade que a gente precisa evoluir para além daqueles 5% do peso corportal. Os pacientes querem 10%, 15% e 20%. A classe médica já está convencida de que a gente precisa buscar tratamentos que levem à redução de pelo menos 15% do peso corporal”, afirma Coutinho. O professor pondera, no entanto, que os inibidores de SGLT2 são medicamentos ainda em estudo para obesidade e com indicações ainda restritas.

Combinação pode eliminar “efeito rebote”

A principal tendência no tratamento farmacológico da obesidade é o uso combinado de substâncias, afirmam especialistas. O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Cury, de São Paulo, disse a O TEMPO ser provável que, em breve, um mesmo medicamento tenha duas, até três moléculas diferentes. “Tudo indica, no tratamento do diabético obeso e do obeso sem diabetes, que é bom ele se acostumar com duas coisas: medicamento injetável e terapia combinada dentro da mesma injeção”, afirma. O médico reforça que a obesidade é uma doença multifatorial, e, portanto, “o tratamento tem que ser multifatorial”. “Quando você olha os efeitos de uma única droga, são muito poucos. As drogas têm que ser combinadas, têm que unir forças. Mas não custa dizer que a mudança de estilo de vida, uma alimentação saudável e a prática de atividade física fazem parte de qualquer arsenal terapêutico, inclusive da prevenção da obesidade. Prevenção que começa com uma gravidez saudável lá no útero na mãe”, diz o especialista.

Pesquisas apresentadas pelo endocrinologista Walmir Coutinho no Congresso Brasileiro de Endocrinologia, neste mês, em Belo Horizonte, mostram que essas combinações são a grande aposta também para eliminar o que a comunidade acadêmica chama de “hiperfagia compensatória” e os pacientes conhecem mais como “efeito rebote”. Quando a pessoa emagrece com remédio ou até mesmo por mudança de hábito, o organismo entende isso como uma ameaça, explica Coutinho, e lança mão de uma série de mecanismos para tentar recuperar essa gordura perdida. Segundo ele, o uso de medicamentos que agem no sistema nervoso central (como antidepressivos ou fentermina) combinados a outros de ação periférica (como liraglutida, orlistat e inibidores de SGLT2 ) tem ajudado a suplantar essa reação. “Daí a importância da terapia combinada”, reforça o especialista.


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